O Ser Humano Andrógeno

Excerto do cap. XVIII do Mysterium magnum de Jacob Boehme.

Adão era um homem e também uma mulher e, não obstante, nem um nem o outro e sim uma virgem, cheia de castidade, de pudor e de pureza, à imagem de Deus; ele tinha em si os dois princípios do fogo e da luz e era na conjunção deles o que estava o seu amor por Ele, o seu princípio virginal, que era o belo jardim de prazer plantado com rosas, no qual ele amava a si mesmo; é isto que vamos ser na ressurreição dos mortos, como nos ensina o Cristo (Mateus, XXII, 30), dizendo que não mais casaremos e que não mais seremos casados, mas que seremos como os anjos de Deus.

Um homem como era Adão antes de sua Eva, deve se elevar e readquirir e manter eternamente a posse do Paraíso; não como homem ou mulher mas como diz a Escritura: "eles são virgens e seguem Deus e o Cordeiro; eles são como os anjos de Deus, não somente espíritos puros como os anjos, mas revestidos de corpos gloriosos nos quais se encontra o corpo espiritual e angélico".

Como Adão foi colocado no Paraíso à imagem de Deus para a vida eterna e o próprio Deus lhe insuflou sua vida e seu espírito, podemos bem descrevê-lo, tal como ele era na sua inocência e como ele decaiu e o que ele é atualmente e, enfim, o que ele se tornará. [...]

Toda criatura traz a partir do corpo da sua mãe a sua veste; só o ser humano vem à existência miserável, nu e desprovido de tudo, na maior pobreza e indigência, sem nenhuma potencialidade e, à sua chegada neste mundo ele é, dentre todas as espécies, a mais pobre e a mais miserável, a mais abandonada das criaturas, e nada pode socorrê-lo; temos aí uma indicação suficiente de que ele não foi criado por Deus para essa miséria e sim para sua perfeição [...].